As armas de brinquedo, como Nerfs, arminhas de espoleta, de água e arminhas de gel, são itens comuns no universo infantil há décadas. No entanto, especialistas alertam que esses brinquedos podem influenciar o comportamento das crianças, levantando preocupações sobre a normalização da violência e a forma como brincadeiras desse tipo afetam o desenvolvimento infantil.
A psicóloga e terapeuta integrativa Gabriela Bernardi Tandalo destaca que, embora pareçam inofensivas, as armas de brinquedo despertam questões psicológicas e sociais que devem ser analisadas pelos pais.
“O uso de armas, mesmo de brinquedo, pode “normalizar” a violência como parte da diversão e do cotidiano, além de estimular competições agressivas e a ideia de que "derrotar o outro" é uma forma válida de interação”, explica.
De acordo com Gabriela, o contato com conteúdo violentos na TV, internet e videogames pode reforçar a ideia de que a violência é algo natural ou aceitável. "Precisamos lembrar que o virtual não pode substituir a realidade", alerta a especialista. Ela também reforça que os adultos são modelos para as crianças e devem avaliar os valores transmitidos durante brincadeiras como "polícia e ladrão". "Se não conseguir conduzir a brincadeira ou supervisionar, não vale o risco. Existem brincadeiras construtivas e saudáveis, basta sermos criativos."
Além dos impactos psicológicos, Gabriela relembra casos trágicos em que crianças portando armas de brinquedo foram confundidas com indivíduos armados, resultando em incidentes fatais. Outra preocupação é a possibilidade de acidentes quando a criança não consegue distinguir um brinquedo de um objeto real.
A especialista sugere alternativas mais saudáveis de diversão, como brincadeiras ao ar livre, jogos de tabuleiro e atividades artísticas, incentivando a criatividade e a colaboração.
"Educar dá trabalho, exige tempo e dedicação, e mesmo que você tenha pouco tempo disponível, quando foca na qualidade desse tempo, coisas lindas acontecem", conclui Gabriela.
Proibição das armas de brinquedo
O debate sobre a comercialização de armas de brinquedo no Brasil tem ganhado força nos últimos anos em diversos estados. Em São Paulo, por exemplo, a Lei 15.301/2014, que proíbe a fabricação e venda desses produtos, foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado, mas na época foi vetada pelo então governador Geraldo Alckmin, sob a justificativa de que a regulamentação caberia à União.
O impasse jurídico durou nove anos, até que, em 16 de dezembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a favor da proibição. O ministro Gilmar Mendes, relator da ação, argumentou que a regulamentação das armas de brinquedo pode ocorrer tanto em nível nacional quanto estadual, com o objetivo de proteger crianças e adolescentes. "A arma de brinquedo não se enquadra na definição de material bélico. A matéria de que trata a lei estadual afeta o direito do consumidor e a proteção da criança e do adolescente", declarou o ministro.
Com a decisão, nenhum brinquedo que dispare projéteis, como luz, laser, balas, bolinhas ou espuma, pode ser fabricado ou comercializado no estado de São Paulo. Empresas que descumprirem a norma estarão sujeitas a uma multa de R$ 20 mil e poderão ter atividades suspensas ou até mesmo fechadas.
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