Nossos olhos são órgãos simplesmente perfeitos e fascinantes. Eles nos permitem ver tudo à nossa frente e nos deixam descobrir e nos surpreender com o mundo o tempo todo. Cada traço nas cores dentro deles mostram a nossa genética, seja qual for o tom de nossos olhos.
Todos os olhos são diferentes, cada um com sua tonalidade, que é inconfundível e sempre chama a atenção por onde passa. Os olhos claros, por exemplo, são os mais desejados pelas pessoas, por chamarem a atenção e ficarem ainda mais realçados durante o dia.
Não é difícil ter alguém admirando um olhar assim, de cor azul ou verde, ou tem aqueles também cor de mel, que são olhos num tom de marrom claro ou até mesmo mais puxado para um amarelo, como nos filmes de vampiros.
Se ter olhos claros já chama a atenção das pessoas, imagina poder ter um de cada cor? Alessandra Bruchez, de 31 anos, e o pequeno Murilo Crusaro, de dois, ambos de Faxinal dos Guedes, foram agraciados com essa peculiaridade conhecida como heterocromia.
Murilo tem um olho azul e outro castanho-esverdeado. Franciele Piovezani, a mãe de Murilo, contou que o filho tinha ambos os olhos na cor azul quando era bebê, mas com o passar do tempo, perto do primeiro ano de vida, uma mancha bem sutil apareceu no olho esquerdo, deixando ainda mais evidente.
"[...] tenho uma tia que tem essa condição, então, já havíamos visto que ele tinha essa manchinha no olho. Nas consultas de rotina com a pediatra, ela identificou que era realmente a heterocromia e que não precisávamos nos preocupar, pois não era nenhum problema era uma condição genética e sim eram olhos raros", relatou Franciele, que diz ter se tranquilizado após a consulta.
No caso de Alessandra, não foi diferente. Mesmo tendo pais com os olhos castanhos, ela nasceu com eles na cor azul. Próximo ao sexto mês de vida, a mãe dela pôde notar a troca de pigmentação dos olhos da menina, o que, logo em seguida, acabou ficando um de cada tom.
"Herdei as cores dos meus avós. Materno, verde, e paterno, azul", explica Alessandra, que relata que o olho verde acaba ficando castanho dependendo do dia e do clima.
Ela conta que foi levada ao oftalmologista quando era pequena e os pais receberam uma notícia não muito agradável. O especialista que atendeu a menina na época afirmou que ela seria cega ou provavelmente não enxergaria de um dos olhos.
Mas, com o passar do tempo e tendo buscado outras opiniões profissionais, Alessandra descobriu que era portadora de heterocromia completa, mas a condição não afetaria sua visão.
"Me acostumei com os olhos assim e não consigo imaginar como seria com os dois da mesma cor".
Alessandra não sofre preconceito algum por conta disso, ao contrário, é bastante elogiada e é até alvo de brincadeiras por parte dos amigos.
"No trabalho tenho algumas colegas que sempre brincam que perdi uma lente ou até mesmo que coloquei pra bonito. Ganhei alguns apelidos carinhosos também, a maioria me chama de 'olho de gato'".
Mas o que seria a heterocromia
Ter um olho de cada cor tem uma explicação bem simples: a heterocromia de íris. Esta é uma condição que afeta uma a cada mil pessoas, além de cães e gatos. Essa condição é causada por falta ou excesso de melanina, pigmento responsável pela coloração da pele, olhos e cabelos.
Conforme o especialista Mateus Koeche Pellizzaro, médico oftalmologista, membro do Hospital de Olhos de Concórdia, no Oeste de Santa Catarina, a cor dos olhos é definida por vários genes, o que chamamos de Herança Poligênica.
"A heterocromia, pura e simples, pode ser uma condição genética, porém, é muito rara. Ela também pode vir acompanhada de outras condições raras, como a síndrome de Sturge Weber (que causa uma mancha com cor de vinho no rosto) e a síndrome de Waardenburg (que pode causar perda de audição e alteração na cor do cabelo, da pele e dos olhos)".
Pellizzaro explica também que a cor do olho dificilmente se modifica ao longo da vida adulta, porém, isso pode acontecer em algumas condições, como siderose ocular, nevos da íris, por medicamentos ou condições inflamatórias.
Entenda cada um deles:
Siderose: se um pequeno pedaço de ferro ficar alojado no olho, ele pode liberar partículas de ferro, que se depositam e alteram a cor do olho (e também podem causar catarata e alterações da retina);
Nevos da íris: assim como nossa pele pode ter "pintinhas", nossos olhos também podem ter. Dependendo do tamanho, esses nevos podem alterar consideravelmente a cor do olho. Precisamos ter muita atenção com casos de Melanoma, que é um tipo de câncer, e requer tratamento imediato;
Medicamentos: o uso de medicamentos, principalmente usados no tratamento de glaucoma, podem alterar um pouco a cor dos olhos. Esses medicamentos são conhecidos como Análogos de Prostaglandinas, e os principais exemplos são a Travaprosta e a Latanoprosta;
Condições inflamatórias: existe uma doença conhecida como Iridociclite Heterocrômica de Fuchs, que causa uma inflamação leve e persistente do olho. Como resultado, a cor do olho tende a ficar progressivamente mais clara (porque perde pigmento). Essa condição costuma vir acompanhada de aumento de pressão ocular (glaucoma) e catarata.
Mateus Koeche Pellizzaro também ressalta que as pessoas sempre façam o acompanhamento regular com um oftalmologista.
Kiane Berté