No primeiro balanço de um ano contábil "cheio" desde sua privatização, a Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023 - 21% a mais do que em 2022. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 14, a empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com ganho de R$ 893 milhões, revertendo prejuízo de R$ 479 milhões no mesmo período de 2022. A administração da empresa informou ainda que vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão, uma alta de 39% ante 2022.
Os bons resultados se refletiram nos preços das ações da empresa. Os papéis ON tiveram alta de 1,41%, negociados a R$ 44, enquanto os PN subiram 0,70%, para R$ 48,78. A Eletrobras foi privatizada em junho de 2022, durante o governo Bolsonaro. Assim como no caso da Vale, o governo Lula tem questionado a venda da Eletrobras e fala em tentar reverter o processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já chegou a dizer que "vai brigar muito" por isso (mais informações nesta página).
Na apresentação dos números a analistas de mercado, o presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que a simplificação da estrutura da companhia influenciou o resultado do ano passado. Ele disse que a empresa não deve anunciar novos Programas de Demissão Voluntária (PDV), mas afirmou que a redução dos custos continuará ao longo de 2024. Ele citou também o esforço da companhia em simplificar sua estrutura societária, o que já se refletiu na redução de custos com pessoal e serviços de terceiros, entre outras rubricas.
O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. "Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema." Questionado, Monteiro respondeu que a empresa não tem em seu planejamento aquisições relevantes. Ele lembrou que, hoje, os dois maiores investimentos da companhia são o parque eólico Coxilha Negra, com 302,4 megawatts, e o linhão de Tucuruí, que é uma parceria com a Alupar. Ambos estão em execução.
"A gente vai manter a disciplina que vem mostrando nos leilões de transmissão e replicar nos próximos processos", afirmou o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf, que destacou a sinergia dos ativos da companhia com os lotes que serão oferecidos.
O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado "fraco" pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e "impairment" (deterioração de ativos), "obscureceram" o desempenho. No entanto, os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto afirmaram em relatório a clientes que a companhia "segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado".
Já o Itaú BBA avaliou que as provisões da Eletrobras, apesar de não serem recorrentes, tiveram impacto negativo nos resultados do quarto trimestre de 2023. Apesar disso, o banco também destacou que a empresa conseguiu reduzir seus empréstimos compulsórios e ter um "sólido" controle de custos.
Analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso afirmaram em relatório que há questões positivas que podem agregar valor à empresa em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.
Pelo desenho da privatização, ficou definido que nenhum investidor poderia ter mais de 10% do poder de voto na Eletrobras, independentemente do número de ações que detenha. Na prática, a empresa não tem um controlador.
Uma decisão favorável ao governo funcionaria, na prática, como uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto voltar a ser equivalente ao número de ações, o Planalto teria novamente o controle da companhia. Isso incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte - cargos disputados por políticos.